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Brinquedo e material para estudos em arquitetura, Brique foi Inventado no final dos anos 1970, coincidindo com a mudança de moradia para a região serrana de Itaipava, Petrópolis, local de produção cerâmica.

 

Em sua primeira versão Brique foi oferecido à venda em lojas de brinquedos educativos e livrarias das principais cidades do país. O produto era constituído de caixas moduladas contendo tijolos e telhas (francesa e canal) de cerâmica queimada em forno à lenha, argamassa, madeiramento e ferramentas (fio-de-prumo, esquadro, pá e padiola). Junto ao kit, ou set, como guia da construção, um desenho em perspectiva, com vistas explodidas, das paredes externas, do telhado e das esquadrias do modelo proposto para uma determinada quantidade de componentes.

 

Como material para estudos em arquitetura, arte e artesanato o material, principalmente os tijolinhos, era oferecido em caixas/módulos de papelão, comumente utilizadas para transporte de figos. Cada caixa contendo 1 grosa = 12 dúzias = 144 tijolos.

 

O folheto/folder explicativo e instrutivo sobre o material era parte integrante essencial do produto. Impresso com a cor brique, o texto – autoria de Newton Montenegro de Lima, designer, poeta, super amigo, entusiasta da ideia – complementava de maneira notável, com humor, o caráter ecológico do brinquedo: a substituição do plástico pela cerâmica atóxica, o modo participativo de fazer e brincar.

 

"Brique é tijolo, Brique é um sistema de construção em tudo similar à alvenaria menos na escala.

​Com Brique você pode fazer a maquete de sua casa, um modelo do Pão de Açúcar, a casa de seu hamster, o muro do vizinho..." (ver abaixo)

 

​A fabricação dos tijolinhos reconstituía o processo de extrusão empregado na produção dos tijolos de verdade. Uma máquina de moer carne industrial foi adaptada para isso. As telhas eram prensadas com moldes de madeira. Todas as peças eram em escala aproximada 1:7,5, tendo como referência as proporções do tijolo certificado nas normas técnicas inglesa.

 

Com ampla divulgação em revistas nacionais e internacionais, Brique participou de importantes exposições e publicações entre elas a Exposição Mil Brinquedos para a Criança Brasileira, realizada no SESC Pompéia em São Paulo, a convite da arquiteta Lina Bo Bardi, idealizadora do evento.

 

Embora detendo uma patente de utilidade o produto foi copiado no mundo inteiro, sendo conservadas as mesmas proporções. Uma contrafação francesa, apresentava exatamente o mesmo folheto versado ipsis litteris para o francês.​

 

O projeto Brique contou com a participação e colaboração dos designers Patricia de Aquino, Nelson Monteiro, Newton Montenegro de Lima, Roberto Lanari, José Luis Ripper. Dos ceramistas Henrique Laje e Celeida Tostes. Do sócio fabricante Joathan Baptista.

Brique

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Depoimento da escritora Ana Maria Machado, fundadora da Livraria Malasartes, uma das primeiras e principais lojas revendedoras do brinquedo.

"Em 1979, quando resolvemos abrir a Malasartes, Maria Eugênia da Silveira e eu sabíamos que estávamos criando a primeira livraria infantil do país. E já desconfiávamos que não conseguiríamos sobreviver apenas de livros para crianças. Um ano depois, já com Renata de Moraes na sociedade  e com a decisão de incorporarmos alguns itens selecionadíssimos de papelaria e uns poucos brinquedos rigorosamente escolhidos, o sucesso da empreitada podia ser medido pelo fato de que havia mais de dez livrarias infantis seguindo nossos passos, só na cidade do Rio de Janeiro. 

Mas nosso cuidado e pioneirismo rendiam frutos além do bom exemplo. A imagem positiva se tornou símbolo de alto nível de qualidade na área. Foi na Malasartes que Chico Buarque fez questão de vir lançar seu livro Chapeuzinho Amarelo, causando um congestionamento de trânsito que se estendeu da Gávea ao Jardim Botânico. E foi na Malasartes que um dia, creio que por sugestão do ilustrador Gian Calvi, nos apareceu o Arísio com o Brique.

Ficamos deslumbradas e enlouquecidas de entusiasmo. Brique não era só o nome de um brinquedo novo e diferente. Era uma proposta diversa de tudo o que já tínhamos visto – ou voltaríamos a ver – nessa área.  Material para construir uma casa de verdade, em tamanho reduzido. Tudo muito bonito e bem acondicionado. Tijolinhos de verdade, argamassa, cimento, madeira. E uma casinha pronta para deixarmos na vitrine, pura tentação a quem passasse. Irresistível.

Do ponto de vista estético, era uma belezinha.

 

Do ponto de vista educacional e lúdico, um brinquedo perfeito. Mostrando e ensinando como se constrói uma casa. Chamando o adulto para participar se quisesse. Ou dispensando-o, se fosse o caso. De qualquer modo, obrigando a botar a mão na massa, a planejar, a esperar, a construir, a trabalhar para que paredes se ergam e telhado as cubra. Nenhuma teoria pedagógica do construtivismo jamais tivera algo assim, tão concreto, a seu alcance.

 

Como instrumento para valorização do social, compreensão do trabalho braçal da construção civil ou do projeto necessário à arquitetura ou à engenharia, era uma abertura de caminhos.

 

Como caminho para a imaginação, numa livraria,  era um roteiro para os grandes mitos imortalizados nas lendas. Ou para lidar com todas as construções de casinhas das histórias e contos de fadas, desde Os Três Porquinhos até a  cabana de doces da bruxa de João e Maria. Mostrando ao vivo como terra e água se misturaram, como o fogo foi necessário para que a argila virasse tijolo ou telha, como o ar atua em tudo isso, como a mão humana transforma a natureza, constroi abrigo, se protege dos perigos.

 

Mais de  quarenta anos depois, é uma alegria poder dar este depoimento e saudar Arísio e o Brique, firmes e fortes, resistindo às tempestades."

 

Ana Maria Machado

Outubro 2021

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